Você conhece este filme? (Orfeu Negro)
Escrito por: Fabiane Bastos
Site: Ah! E por falar nisso...
Ainda não foi dessa vez que o Brasil ganhou um Oscar, mas
tudo bem porquê o carnaval vem aí para mudar de assunto e seguirmos o bonde.
Foi pensando na proximidade entre a “grande festa do cinema”, e “a maior festa
do mundo”, que me lembrei de Orfeu Negro.
Um filme “semi-brasileiro” que ganhou um prêmio da Academia e que você
provavelmente desconhece.
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Orfeu
Negro (ou Orfeu do
Carnaval) é um filme franco ítalo-brasileiro de 1959, rodado inteiramente
no Brasil e com elenco majoritariamente brasileiro. Dirigido pelo francês
Marcel Camus, ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1960 para a França,
país de origem de seu diretor. A produção também ganhou a Palma de Ouro em
Cannes, e o Globo de Ouro de Filme Estrangeiro.
O longa é inspirado na peça Orfeu da Conceição de Vinícius de Moraes. Esta por sua vez, é
inspirada no mito grego de Orfeu e Eurídice. Nele, após a morte de sua amada,
Orfeu a segue para o submundo "encantando" os obstáculos com suas
músicas. Convence Hades a libertar a moça, com a condição de que ele não
olhasse para trás no caminho de volta. Mas Orfeu receia que sua amada não o
esteja seguindo, olha para trás e perde Eurídice novamente. Eles se reencontrarão
apenas após sua morte. O filme e a peça, transportam o romance trágico para o
carnaval carioca, transformando Orfeu em um sambista.

As atuações também são bastante fracas. Orfeu é
interpretado pelo jogador de futebol Breno Mello, dublado por Agostinho dos
Santos nas canções. Já Eurídice é vivida por Marpessa Dawn, atriz
norte-americana radicada na França e esposa do diretor. Entre o elenco apenas Léa Garcia, que desde
então se tornou um rosto familiar em novelas e filmes, realmente entrega um
trabalho interessante, se esforçando para enriquecer um roteiro de diálogos
rasos.
Os pontos altos da produção São as canções de Tom e
Vinícius, e os curiosos registro do Rio de Janeiro no final dos anos 1950.
Desde os cartões postais registrados do alto do Morro da Babilônia, até o
registro de desfiles de escolas de samba reais, em uma era pré-sambódromo. Os
desfiles eram na Avenida Rio Branco, apenas uma corda os separava do público. O
caos organizado era surpreendente, e as fantasias bem diferentes das atuais.
Se não agradou em terras brasileiras, lá fora o filme
apresentou o Brasil de muitas formas. Apresentou o conceito de favela, vários
pontos turísticos, a exuberância do carnaval, e até um pouco de nosso
sincretismo religioso. Mostrou para o mundo também a boa música de Tom e
Vinícius, e consequentemente deu um empurrãozinho na popularidade da Bossa
Nova. Manhã e de Carnaval composta
por Luis Bonfá e Antonio Maria também ganhou seu palco e chegou a ser regravada
por nomes como Frank Sinatra, Luciano Pavarotti.
Outro fator curioso, é que o filme foi considerado uma rara representação da beleza negra na época. Ainda que fosse uma versão caricata, era um elenco majoritariamente negro, retratado de forma esteticamente bela.
Em 1999 a peça ganhou uma nova adaptação. Orfeu foi dirigido por Cacá Diegues,
estrelado por Toni Garrido, Patrícia França, Murilo Benício, Zezé Motta. Era
menos caricato e fantasioso que seu antecessor. Foi escolhido para representar
o Brasil no Oscar, mas sequer foi indicado.
Para o bem, ou para o mal, Orfeu Negro apresentou e representou o Brasil para o mundo. Se
fomos retratados por muito tempo como a terra exótica do carnaval e futebol (e
ainda somos, apenas inclua corrupção no pacote), esta produção tem certamente
sua parcela de culpa.
Atualmente é um retrato curioso de uma época, e um registro
da visão de estrangeiro sobre nós, que acabou influenciando a imagem do país
inteiro diante do mundo. Também é uma conexão curiosa entre Oscar e carnaval, e
um pretexto perfeito para (re)descobrirmos esta produção peculiar. Não acha?
*Orfeu Negro está
disponível no NetMovies e Looke legalmente, mas também existem versões de baixa
qualidade no YouTube.