Entre Realidades | Crítica
ESTE ARTIGO CONTÉM SPOILERS!
Acaba de entrar no catálogo da Netflix o longa – Entre Realidades – um filme que busca ser inteligente, mas que acaba apenas sendo confuso.
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Em discussões na internet percebi que a teoria mais aceita pelo público, é que a protagonista Sarah (Alison Brie), sofreria de algum distúrbio mental, talvez mais especificamente de psicose. De certo que vários momentos do filme corroboram a ideia, já que a protagonista confunde constantemente as realidades e apresenta delírios e alucinações frequentes. No entanto, a direção não foi capaz de seguir tal raciocínio, colocando cenas em que destroem totalmente essa teoria – como quando sua amiga Joan (Molly Shannon), percebe que tem um cavalo passando do lado de fora da loja, enquanto Sarah está na verdade ao seu lado – um problema obviamente temporal.
É importante salientar que a direção de Jeff Baena pode ter escolhido justamente passar essa impressão, para que você telespectador fique na dúvida (Ela estava realmente falando a verdade? Ou apenas alucinando?). O problema de tudo isso é que a direção estava mais confusa que o filme, já que por muitas vezes parece ter "escolhido" o fator doença mental, mas em um instante seguinte muda para o fator sobrenatural. Para uma boa discussão sobre a natureza da realidade, é necessário que a cena transite entre o surreal e o real, de forma que a mesma encaixe em qualquer uma das explicações – veja um trabalho bem feito em O Sexto Sentido.
Podemos buscar no filme um sentido mais metafórico, como a passagem de vida para a morte com o transporte da égua, porém, tudo isso também perde o sentido ao ser confrontado com ideias do próprio longa (clones, alienígenas, viagens no tempo).
Para piorar, alguns mistérios são expostos repetidas vezes (como os arranhões na parede), porém nada é explicado sobre tal. É importante salientar que um filme não precisa explicar tudo para que seja bom, no entanto, quando uma ideia é enfatizada, funciona como um sinal para a nossa expectativa, que se não cumprida, deixa uma sensação de vazio. Para deixar ainda mais claro, os tais arranhões são constantemente lembrados, seja visualmente ou em diálogos, porém o roteiro parece apenas tê-lo o esquecido, ou a explicação foi cortada durante a montagem. Além disso, outros vários mistérios são abandonados pelo caminho, como o nome do seu ficante ser o mesmo do protagonista da série, sua acompanhante de quarto mudar repentinamente, os tais arranhões e etc.
Não é por que o filme expressa uma possível doença mental da protagonista, que qualquer sandice do roteiro possa ser argumentado com isso.
O longa felizmente tem uma sobrevida graças a interpretação de Alison Brie – que também tem sua assinatura no roteiro. A moça faz com que os dramas da personagem sejam bem verídicos, e os momentos de surto pareçam também bastante críveis. Infelizmente ela é a única que se destaca, pois todos os outros parecem estar apenas no automático.
Apesar dos problemas já citados na construção dos mistérios, o filme ainda consegue boas cenas quando se tratam dos lapsos temporais.
Entre Realidades é um clássico filme que busca ser muito mais do que realmente é. Brinca com a vivência de sua protagonista, e finge se importar com distúrbios mentais, tudo isso tentando demonstrar profundidade, no entanto, o longa tropeça em suas próprias pernas, ao querer te dar uma mensagem filosófica da qual nem eles mesmos entenderam.
AVALIAÇÃO: 2.5