O Irlandês | Crítica
ESSE ARTIGO NÃO CONTÉM SPOILERS
Com direção de Martin
Scorsese “O Irlandês” tem dado o que falar, o filme foi comentado por
praticamente todos os portais de cinema, sejam estrangeiros ou aqui do
Brasil. A Netflix, que mais uma vez
abriu as portas para obras mais autorais, viu seu dinheiro sendo gastado naquele
que para muitos entrou para os clássicos do gênero de Gangster.
Algo muito importante a se
esclarecer sobre a obra, é que ela não é sobre a violência da máfia, e sim
sobre os integrantes e seus conflitos internos – obviamente o longa tem alguns instantes
de violência, mas em nenhum momento essa violência é glamourizada, sendo feita
em takes bem rápidos e precisos,
apenas para contextualizar toda aquela situação.
Dito isso, o longa é
realmente um longa, com quase seus 3h30min de extensão, o que pode ser um
incomodo para pessoas que buscam um entretenimento cada vez mais rápido. Aqui,
Scorsese vem na contramão, para mostrar que esse tipo de obra ainda tem seu
espaço.
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O trio central do filme está
espetacular, tanto Joe Pesci (Russell Bufalino), Al Pacino, (Jimmy Hoffa) e Robert
De Niro (Frank Sheeran), entregam interpretações dignas de indicações ao Oscar,
a Netflix vai precisar escolher em quem apostar para o prêmio. De Niro é
colocado como protagonista, o que dá a ele um pouco mais de espaço para encher
de carga dramática seu personagem. Uma cena em específico de telefone é um
ótimo exemplo disso.
É interessante notar ainda que
Scorsese decidiu utilizar do recurso de rejuvenescimento (e envelhecimento) dos
atores, o que demonstra sua capacidade de se inserir nas novas tecnologias. Em
nenhum momento o efeito especial incomoda, o que dá mais veracidade a aquela
passagem de tempo.
O filme se foca em mostrar o
que acontece com esses gangsters em
seus momentos finais, sendo assim, o último ato em questão é uma
alegoria do ciclo da vida, – e da própria carreira de
Scorsese – e é partir daí que percebemos a importância da obra ser tão longa. Aqui
se encerra o arco familiar, que tanto foi sendo colocado de lado por Frank em
decorrência de seu trabalho, só ali não conseguindo mais estabelecer diálogo
com as suas filhas, que ele questiona se “valeu
a pena tudo aquilo?”, ao momento que ainda mantém uma lealdade quase
injustificável por um de seus amigos mortos.
A obra joga na nossa cara
uma perspectiva de narrativa espetacular, com diálogos tensos, porém sutis, com
cenas de silêncio quase que assustadoras, e uma cinematografia focada no rosto
dos atores para nos dar ainda mais proximidade com aqueles personagens.
O Irlandês é mesmo uma obra
para poucos, seu deleite não está nos efeitos especiais ou em uma história
desenfreada de ação, está na verdade nas nuanças dos comportamentos e na
fragilidade que tem a vida humana, e é exatamente aqui que o filme acerta.
NOTA
DO FILME: 8.5
Nos resta torcer que a
parceria Scorsese-Netflix se mantenha para outras produções. Um abraço!